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O OUTRO LADO DA NOTÍCIA

Livro conta a trajetória de Apoena Meirellles
07/08/2007 - Marta Simões - Tribuna da Imprensa

Biografia do indigenista, organizada pelos jornalistas Lilian Newlands e Aguinaldo Ramos, será lançada hoje no Leblon

Apoena, que em xavante quer dizer o homem que enxerga longe, não poderia ser nome mais apropriado para o sertanista Apoena Meirelles, um dos mais dedicados defensores da causa indígena no Brasil. A trajetória do indigenista, assassinado em outubro de 2004, é tema da biografia ¨Apoena, o homem que enxerga longe¨, organizada pelos jornalistas Lilian Newlands e Aguinaldo Ramos.

O lançamento do livro, hoje, às 19 horas, no bar Desacato, no Leblon (Rua Conde de Bernadote, 26 - A) será um quarup (cerimônia síco-religiosa intertribal de celebração dos mortos). Estarão presentes a mãe de Apoena, Abigail Meirelles, os quatro filhos dele, Apoena, Tainá, Francisco e Suziná, e ainda o cacique Suruí e a fundadora da Casa do Índio, Eunice Cariry.

A história de Apoena Meireles possui elementos semelhantes aos das mais apaixonantes sagas da ficção, parte dela testemunhada pelos autores da biografia, que o conheceram na década de 70, quando faziam uma matéria especial sobre os 10 anos do massacre do jornalista Possidônio Cavalcanti, o Possi, pelos índios cintas-larga. Lilian conheceu Apoena na primeira das cinco viagens que fez a Região Amazônica.


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¨Apoena era um homem extremamente sedutor e fazia um trabalho muito bonito e silencioso. Chamava atenção o fato de ele ser muito querido por povos inteiros. Alguma coisa essa pessoa tem de especial¨, diz.

O indigenista é personagem central do livro que inclui ainda as trajetórias de outras pessoas que de uma alguma forma tiveram a vida ligada a dele, como o próprio Possi, que largou a profissão de jornalista de ¨O Globo¨ para se tornar sertanista, e a primeira mulher de Apoena, Denise Maldi.

Antropóloga, ela abdicou de tudo para viver com ele na floresta e ao seu lado defender os índios. ¨Era uma mulher extremamente corajosa e dedicada à causa¨, conta Lilian. O livro tem também passagens humoradas, como o capítulo escrito por Denise Maldi Meirelles, sobre o mito de os kren-akarore serem um povo gigante e os problemas enfrentados pelos missionários com a resistência dos paaaka-novas à catequese.

A atuação política de Apoena é registrada em determinados passagens com narrativa na primeira pessoa, como foi tomada do próprio sertanista. Sua passagem pela Funai e sua defesa de políticas que só bem mais tarde se tornaram prática, como o desenvolvimento sustentado, cujo princípio é a harmonização entre a atividade econômica e a sobrevivência dos povos da floresta.

Segundo Lilian, o livro ainda não é uma biografia definitiva de Apoena Meirelles. ¨Esse livro é uma compilação de fatos de duas pessoas que acompanharam o trabalho de Apoena e entenderam a importância dele. É um registro com testemunhos e fotos para lembrar um homem que teve uma enorme importância para os povos indígenas e para o País¨.

Um breve histórico

¨(...) Eu prefiro morrer lutando ao lado dos índios em defesa de suas terras e seus direitos do que viver para amanhã vê-los reduzidos a mendigos em suas terras¨. A frase de Apoena Meirelles resume bem sua determinação na defesa dos índios. Nascido na reserva indígena de Pimentel Barbosa, Apoena seguiu o mesmo caminho trilhado pelo pai, Francisco Meireles, dedicando sua vida questão indígena desde muito cedo.

Em 1967, aos 17 anos e ao lado do pai, fez o primeiro contato com os cintas-larga. Nesta época, revoltava-se com as políticas que privilegiavam os colonos, sendo condescendente com as invasões de áreas indígenas em nome de projetos de expansão de fronteira agrícola e de um arremedo de reforma agrária que eram os assentamentos promovidos pelo Incra.

Apoena era de uma geração de sertanistas que aprendeu e preconizou o respeito à vida humana e aos costumes indígenas. Seus principais legados à causa indígena foram a consolidação do contato com os kren-akarore, em Mato Grosso, e dos waimiri-atroari, na Amazônia, que acuados por invasores, estavam em pé de guerra. Além dessas etnias, Apoena comandou as frentes de atração dos suruí e uru-eu-wau-wau, em Rondônia, Estado onde fez quase toda a sua carreira de indigenista. Consolidou também as atrações dos zoro, em Mato Grosso; avá-canoeiro, em Goiás, e dos cintas-larga, em Mato Grosso e Rondônia.

Com uma visão equilibrada, ao mesmo tempo em que trabalhava para preservar as comunidades, Apoena entendia que os índios tinham os mesmos direitos que os demais brasileiros, desde que não perdessem os elos ancestrais de sua cultura, seus costumes e tradições religiosas.

Em sua última missão, o indigenista coordenava uma força-tarefa para impedir a entrada de garimpeiros nas aldeias dos cintas-Larga e na área de mineração de diamantes da Reserva Roosevelt, em Rondônia. Na época, também buscava esclarecer as circunstâncias do massacre de 29 garimpeiros que invadiam as terras dos cintas-larga. O sertanista acreditava que garimpeiros poderiam ter sido mortos devido a um desentendimento entre dois grupos indígenas. Um favorável à exploração de diamantes por brancos na área e outro contrário.

Apoena foi assassinado no dia 10 de outubro de 2004, aos 55 anos, depois de supostamente ser vítima de um assalto numa agência do Banco do Brasil de Porto Velho. Até hoje há suspeitas de que o indigenista tenha sido executado. Sua morte causou uma comoção sem precedentes nas comunidades indígenas e entre os povos da floresta que tinham por ele uma espécie de devoção.

  

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